Brasil
“A escola não pode achar que só precisa ensinar Português e Matemática”
A jornalista, que cobre a área de Educação há 22 anos e fundou a Jeduca, acredita que a Educação Midiática deve fazer parte da política pública.

Após refletir muito sobre como poderia ajudar a aumentar o interesse de novos profissionais da comunicação pela Educação, a jornalista Renata Cafardo fundou, em 2016, com outros colegas, a Jeduca (Associação dos Jornalistas de Educação).
Renata cobre a área há 22 anos e, nesse período, percebeu que os jornalistas não tinham formação adequada para escrever sobre o tema. “Tínhamos de fazer o papel de formação com os que já estavam no mercado e também com os novos, que poderiam se interessar pela área se tivéssemos materiais, cursos e apoio”, conta a jornalista, que cursou o Global Reporting Institute, da Universidade de Columbia, e é vencedora de diversos prêmios, como o Paulo Freire 2022.
Outra crença de Renata é no poder da Educação Midiática. “A escola também tem um papel importante na questão de apontar o que é desinformação, o que são as fake news. Saber buscar as informações corretas também faz parte da construção da cidadania”, diz ela.
Confira entrevista completa da jornalista à Qualé.
Por que você virou jornalista com foco em Educação?
Entrei no jornal O Estado de S. Paulo em 2000. Na época, havia muita greve nas escolas e universidades. Foram meses de cobertura, então acabei fazendo contatos e conseguindo fontes. Quando as greves acabaram, continuei na área e me apaixonei. Mas o começo foi ao acaso, mesmo porque não existia, e ainda não existe, curso de Jornalismo de Educação. Por outro lado, é uma área que cresceu muito nos últimos 20 anos. Antes só se fazia reportagem sobre greve ou aumento da mensalidade. Ainda não existiam avaliações e índices, não se mensurava a Educação, não sabíamos nem quantos alunos estavam matriculados no Ensino Médio. Depois, com o surgimento do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), por exemplo, conseguimos fazer matérias mais impactantes, que mostravam a qualidade da Educação. Hoje existem mais profissionais falando do tema porque a Educação passou a ganhar maior importância, inclusive com políticas públicas. O ideal é que os jornalistas não caiam na área por acaso, que eles escolham trabalhar com isso.
Quais os principais desafios de ser jornalista de Educação de forma global? E no Brasil?
É uma área com a qual todos se identificam por algum motivo. Ou estudou, ou está estudando, ou teve e tem filhos na escola e universidade. Dá a impressão de que todo mundo entende um pouco, mas não é bem assim, não basta escrever o que ‘acha’ ou o que ‘quer’ sobre o tema. É preciso estudar. No Brasil, o maior desafio é porque ainda se trata de algo não muito valorizado. Não ganha o investimento financeiro necessário nem o olhar dos políticos. Nosso trabalho é sempre tentar trazer a atenção para a Educação, a discussão sobre como fazer, as questões pedagógicas, o quanto é importante falar sobre a escola pública, sobre os mais vulneráveis. Quanto mais debatermos e as pessoas souberem o que é certo para a área, mais poderão cobrar com ênfase os governos. Ser jornalista desse assunto é uma responsabilidade grande, que ajuda a sociedade e o país a valorizarem o tema e, assim, terem uma Educação cada vez melhor.
Como surgiu a ideia de criar a Jeduca?
Com o aumento dos índices específicos, das várias siglas, percebemos que os jornalistas não eram formados para tratar do tema, que ficavam confusos. Tínhamos de fazer o papel de formação com os que já estavam no mercado e também com os novos, que poderiam se interessar pela área se tivéssemos materiais, cursos e apoio. Foi por isso que me juntei a vários colegas e formamos a Jeduca, associação sem fins lucrativos. Hoje crescemos e temos uma editora que está à disposição de qualquer jornalista do país que queira algum tipo de ajuda nas pautas, fontes e direcionamento. Todos os anos fazemos um congresso de dois dias com variadas discussões sobre Educação. Conseguimos dar mais força ao tema e fazer com que cada vez mais gente se interesse. Fico muito feliz com isso.
O que espera que melhore na área nos próximos anos?
Espero que se volte a olhar para a Educação com seriedade, que os investimentos sejam retomados, já que houve muitos cortes nos últimos tempos e omissão do Ministério da Educação (MEC). Que tenhamos aprendido a lição, que o MEC ajude os governantes a propor política de colaboração com os municípios e Estados, que precisam muito do ministério, tanto financeiramente quanto em orientação e coordenação nacional. Também desejo que se recuperem as crianças que tiveram uma perda enorme durante a pandemia de Covid-19, tanto do ponto de vista da aprendizagem quanto do ponto de vista da saúde mental.
Qual o papel das escolas nessa mudança?
É essencial que ajudem a melhorar esse ‘racha’ que se instalou na sociedade. Que as crianças aprendam o que é democracia, o que é uma participação cidadã, qual a importância da eleição, do voto. Isso não é só coisa de adulto. Que sejam ensinadas, sim, a discutir política nas escolas. Existe um medo. Não se trata de política partidária, mas de ajudar os estudantes a lidarem melhor com tolerância, a terem mais autonomia e independência. A escola é o lugar onde a criança experimenta a sociedade, vê o outro, lida com o diferente. Por isso, as instituições de ensino precisam assumir esse papel.
Reforçar a Educação midiática pode ajudar nesse processo?
Sim. A escola também tem um papel importante na questão de apontar o que é desinformação, o que são as fake news. Saber buscar as informações corretas também faz parte da construção da cidadania. Os educadores devem oferecer isso aos estudantes e não dá para deixar no segundo plano, é necessário fazer parte da grade curricular, porque do contrário não vamos evoluir como país. As pessoas continuam acreditando em notícias falsas e é preciso haver um trabalho melhor de como lidar com isso. A escola não pode achar que só precisa ensinar Português e Matemática. A formação tem que ser integral e a Educação Midiática necessita ser inserida como política pública, não pode estar só em um ou outro colégio particular. Uma formação muito forte dos educadores deve integrar essas políticas públicas. Eles são parte da sociedade ‘rachada’ e também têm as suas questões pessoais.
Quais dicas você daria a quem quer trabalhar na área da Educação?
Tem que gostar e acreditar na importância da Educação para o desenvolvimento do país, na formação do cidadão. Acho difícil alguém não acreditar nisso. O que acontece é que as pessoas não sabem bem como fazer. Por isso, é essencial se informar, procurar cursos, estudar e ler bastante. Existe muito material bom, alguns mais teóricos, outros que falam de Educação voltada para o desenvolvimento humano. É preciso ir além de achar que Educação é enfiar conteúdo na cabeça dos estudantes. Isso é algo mínimo diante da quantidade de informações a que eles têm acesso. Com uma simples busca na internet, encontram-se todas as fórmulas. Por isso, é preciso primeiro saber lidar com o que a tecnologia oferece, com as informações que chegam, com as emoções. É saber colaborar e ter empatia com o próximo. Isso é muito mais importante na formação e quem for trabalhar com Educação deve ter consciência disso.
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